quarta-feira, 22 de julho de 2009

Sobre o Construtivismo

O Construtivismo, movimento artístico que se originou na Rússia, rejeitava a idéia da ‘arte pela arte’ em favor de uma arte com objetivos sociais. Apesar de não ter desaparecido completamente, o Construtivismo teve seu período áureo entre 1917 e 1934, sendo abafado pelo surgimento do Realismo Socialista. Foi somente depois da Revolução Socialista de 1917 que os artistas russos começaram a chamar seus trabalhos “construções” e eles mesmos de “construtivistas”. Esse termo foi cunhado pelo Primeiro Grupo de Trabalho dos Construtivistas, criado em março de 1921 no Inkhuk (Instituto de Cultura Artística), em Moscou, e que contava entre seus fundadores o casal Alexander Rodchenko (1891-1956) e Varvara Stepanova (1894-1958) – autores do manifesto aqui traduzido.
O Grupo se dedicava a promover os valores do comunismo por meio do que consideravam áreas mais “produtivas” ou “construtivas” que englobavam o design, a arquitetura e a propaganda de agitação (ou AgitProp). O termo “Construção” se vinculava à idéia do uso da tecnologia e da engenharia. Por conseguinte, se caracterizava pela economia de materiais, precisão, clareza de organização e ausência de elementos decorativos ou supérfluos. Para obter a qualidade de “construção” que almejavam, os artistas renunciaram à mera abstração em prol de um trabalho no qual incorporavam materiais industriais.
A urgência para criar objetos tridimensionais de utilidade social resultou em diversos projetos para estruturas temporárias como quiosques portáteis ou desmontáveis. Em 1925, Rodchenko desenvolveu projeto para um Clube dos Trabalhadores, apresentado na Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas, que ocorreu em Paris. Os Clubes de Trabalhadores eram vistos como instituições novas e importantes tanto do ponto de vista político, por inculcarem os novos valores do comunismo, como dos pontos de vista educacional, cultural e social – como substitutos para o tradicional papel da Igreja. Rodchenko padronizou elementos do mobiliário e observou estrita economia em termos de espaço, materiais e métodos de produção. Também na área gráfica, os Construtivistas criaram trabalhos inovadores. Rodchenko, por exemplo, concebeu layouts e capas para revistas de vanguarda como Kino-fot (1922), Lef (1923-5) e Novy Lef (1927-8), criou também cartazes de cinema e imagens de propaganda que tiveram ampla circulação. Esses trabalhos geralmente compreendiam fotomontagens combinadas com uma tipografia expressiva e elementos geométricos e abstratos. A fotografia, resultado de um processo mecânico, se adequava perfeitamente às preocupações construtivistas com a tecnologia e eram, também, a ponte ideal para a preferência declarada do Partido Comunista por imagens realistas, legíveis e acessíveis às massas.
No final dos anos 1920 e início de 1930, as artes, na URSS, passaram a sofrer um crescente controle do Estado, o que levou à imposição do realismo socialista como diretriz artística. Os construtivistas não saíram totalmente de cena e continuaram a trabalhar em projetos de cartazes e exposições, nos quais a fotomontagem era vista como uma arma eficiente de propaganda comunista.
O construtivismo nasceu a partir dos ideais da Revolução, mas acabou por se tornar vítima do sistema político do qual emergiu. Rodchenko & Popova: defining constructivism Em tempo, a galeria Tate Modern de Londres promoveu de 12 de fevereiro a 17 de maio deste ano a exposição Rodchenko & Popova: defining constructivism. Entre os projetos expostos de pintura, trabalhos gráficos, esculturas e propaganda – espalhados por 12 salas, a Tate exibiu uma recriação do espaço, projetado por Rodchenko, do Clube dos Trabalhadores (1925).

Marcello Montore
http://www.agitprop.vitruvius.com.br/repertorio_det.php?codeps=MjM

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